Você tem estereótipos? Isto é, acredita que alguém seja gay apenas por possuir uma característica como as citadas abaixo. Marque as opções que você acredita que sejam sinais de homossexualidade.

Com que idade você deu seu primeiro beijo gay?

Qual sua orientação sexual?

Você tem uma predileção em relação ao físico da pessoa com quem vai ficar? Qual o biotipo que mais o atrai em um homem?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Gays na História


Sim, eu estive sumido. Mas hoje farei uma postagem especial àqueles que se descobriram, ou estão se descobrindo gays, e pensam aquelas coisas todas: "Oh, meu Deus, serei uma bichinha, serei um viadinho, serei rotulado". Bom, você não pode impedir que alguns (ou muitos) babacas pensem assim. Mas você pode começar não pensando, não é? Para isso, você pode tomar como exemplo os gays famosos na história. Como verá a seguir, eles não eram todos iguais. Não eram "um bando de viadinhos". A homossexualidade quer apenas dizer que você se sente atraído por pessoas do mesmo sexo, e com essas características pode haver os mais diversos tipos de seres humanos, com as mais diferentes personalidades e características. Vamos conferir?






SÓCRATES, PLATÃO e ARISTÓTELES






Sabemos que a homossexualidade não é uma opção. É uma condição natural de algumas pessoas, embora não saibamos exatamente sua origem. Ela sempre existiu, em TODAS as culturas. Alguns podem dizer: "Não existia gay na China porque era proibido"... Errado. Existiam. A prática poderia não existir, mas a sexualidade estava lá, oculta nas pessoas. E houve muitas culturas que tiveram a homossexualidade como parte dela, assim foi na Grécia antiga. Mas o conceito de "gays" na Grécia antiga está bem distante de ser o que pensam que era. Havia um modelo familiar patricarcal, heterossexual, que servia como reprodução. Apesar disso, era aceito e extremamente comum (e até, de certa forma, imposto) que homens tivessem seus melhores amigos, com quem tinham todo tipo de intimidade, inclusive sexual. Além disso, era comum também que homens "iniciassem" jovens rapazes nos aprendizados sexuais, e o jovem era sempre o passivo. Muitos filósofos famosos eram "fãs" das relações homossexuais. Os mais conhecidos deles não ficam para trás, havendo até especulações sobre o quão íntima era a relação entre Platão e Aristóteles (é quase certo que eram amantes, como nós os consideraríamos pelo ponto de vista de hoje). E Sócrates afirmava que a melhor forma de se inspirar era praticar sexo anal, e que o sexo heterossexual apenas servia para procriação.

LEONARDO DA VINCI







Pintor italiano nascido em 1452. Chegou a ser "acusado" de ser gay (em sua época, relações homossexuais eram crime) por ter supostamente se relacionado com um jovem de 17 anos chamado Jacob Saltarelli (que havia sido prostituto). Por falta de provas a acusação acabou sendo arquivado com o tempo. Anos mais tarde, passou a viver com um jovem chamado Giacomo, dando origem a mais boatos, porém sem ter grandes problemas. Para muitos estudiosos, a Monalisa (sua pintura mais famosa) é na verdade seu alter ego, um retrato de sua essência feminina.


Tchaikovsky









Tchaikovsk nasceu na Rússia de 1840, e foi um dos maiores compositores de música clássica do mundo. Era homossexual e, por falta de informação (viveu em uma época extremamente repressora e desinformada a respeito) acredita possuir uma perversão, uma espécie de tara, por sentir atração por homens. Aos 36 anos toma a decisão de se casar com uma bela mulher chamada Ivanovna, mas, na lua de mel, desesperado, prefere se atirar em um rio extremamente gelado a se deitar com a esposa. Sobreviveu e continuou brilhando em suas composições, embora nunca tenha se aceitado completamente.



OSCAR WILDE



Famoso escritor irlandês, autor de diversas frases célebres, nascido em 1854. Era querido por todos por sua personalidade extrovertida e extravagante. Sempre bem vindo em festas e polêmico com seus comentários audaciosos e divertidos. Oscar era casado e pai de dois filhos, mas era homossexual. Seu sucesso foi por água abaixo quando se apaixonou por um rapaz chamado Alfredo Douglas (conhecido como Bosie). Bosie e Oscar tiveram um caso secreto durante algum tempo, até que o pai de Bosie, irritado, começou a atacar Oscar, publicando ofensas e calúnias sobre ele, além de processá-lo por crime de homossexualidade (na época, ser gay ainda era crime na Inglaterra, onde Oscar vivia). Bosie ficou do lado do pai e testemunhou contra Oscar Wilde, que ficou preso por dois anos por ser homossexual, sendo obrigado a cumprir trabalhos forçados. Ao sair da cadeira, já com a saúde e a carreira destruídas, mudou-se para Paris, onde faleceu pouco tempo depois.


HANS CHRISTIAN ANDERSEN


Nascido na Dinamarca, em 1805. Primeiro autor do mundo a escrever especialmente para crianças, criando as próprias histórias (antes dele, outros autores haviam escrito para crianças, porém sem criar, apenas transcrevendo contos da tradição oral, de autoria desconhecida). Andersen era de origem paupérrima, e vivia em uma cidade-ilha chamada Odense com sua mãe lavadeira e seu pai sapateiro, além de causar estranheza por sua aparência (era excessivamene magro, narigudo, com olhos verdes tão pequenos que pareciam ervilhas, e com volumosos cachos negros nos cabelos). Mesmo em meio a tanta miséria, e com sua mãe alcoolatra e seu pai doente, o menino conservava uma imaginação incrível, e vivia como se estivesse em um conto de fadas. Com a morte de seu pai, Andersen vai a Copenhaque, aos 14 anos, onde consegue um pequeno trabalho como cantor em um teatro, mas uma forte e misteriosa doença em suas cordas vocais o faz "perder a voz" e o impede de cantar. Sem ter aonde ir, acidentalmente, na porta de um teatro, Andersen acaba conhecendo a rica família Colin, e sua criatividade encanta a menina Louise, filha mais nova do sr. Colin, que acredita no talento do rapaz, o levando para sua mansão. Lá, ele conhece Edvard, filho adolescente do Sr. Collin, da mesma idade de Andersen. Andersen passa a nutrir então uma paixão secreta pelo rapaz, que a princípio o despreza e não aceita conviver com Andersen em sua casa, mas com o tempo se torna seu amigo. Andersen passa a enviar cartas a Edvard em que assume estar apaixonado e que "desperto por você como uma menina da Calábria, meus sentimentos por você são os de uma garota. Por favor, a feminilidade da minha natureza deve permanecer em segredo absoluto". Edvard jamais expôs Andersen, mas não o correspondeu, vindo a se casar com uma linda moça de cabelos negros, anos depois. Andersen, já com estudo, e contos publicados, e com sucesso, abandona a mansão dos Colin, publicando seu conto mais célebre, A Pequena Sereia, que para muitos seria uma metáfora sobre seu amor não correspondido, em 1836. Andersen também teve paixões por mulheres e por outros homens, mas nunca foi correspondido, morrendo sozinho e sem filhos, na companhia apenas das crianças que amavam suas histórias. O dia de seu nascimento se tornou dia mundial do livro infantil - 2 de abril.


Quem desejar ter mais informações, fazer perguntas, críticas, enfim, é só comentar. Posso discordar ou concordar, mas ouvirei com todo carinho. Em breve, pretendo fazer um post com lésbicas/bissexuais femininas da história. Aguardem!
Algumas fontes:


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Beautiful Thing" - Filme


Que atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou por um personagem. Seja um filme, livro ou peça de teatro. Eu já me apaixonei por personagens de todos os tipos. Não tenha vergonha, assuma que, em algum momento, de alguma forma, um personagem já fez você suspirar, ainda que rapidamente, mesmo que depois você tenha seguido em frente e não pensado mais nisso, naquele momento um personagem atingiu sua alma. Pois se a resposta é sim, vou lhe contar um segredo: um personagem nunca morre. Sim, ele está sempre vivo, junto de você, desde que você não se esqueça dele.


Hoje vou falar sobre um filme tão romântico que me fez suspirar, torcer junto, me emocionar, e sonhar com alguém tão romântico e cheio de personalidade como aquele protagonista.


"Jamie era só mais um dos caras..." assim começa a sinopse e a locução do trailler.


A história começa com Jamie, um menino aparentemente igual a todos os outros naquela vizinhança em um subúrbio londrino, fugindo da aula de futebol na escola. Sua mãe, a enérgica Sandra, não entende por que Jamie não suporta o esporte, e por que não tem amizades com os rapazes de sua idade, e o repreende.



Na casa ao lado, vive Leah, uma garota louca por música e por uma artista chamada Mama Cass. Leah é cheia de personalidade, e passa o dia ouvindo suas músicas, sonhando em ser como ela, e desobedecendo sua mãe idosa, sendo considerada pela vizinhança (especialmente por Sandra) uma má influência para os outros jovens.


Steven, ou simplesmente Ste, vive com o pai alcoolatra e o irmão mais velho, Trevor. Ste é espancado diariamente por Trevor.

Sandra se compadece de Ste e o convida para dormir em sua casa, no quarto de Jamie. A partir daí, de uma forma delicada e pura, surge o amor entre os dois rapazes, Jamie e Ste, que, com a ajuda da irreverente amiga Leah, precisam lutar para continuarem, juntos e mostrar que: "não importa onde você procura, se quer achar algo bonito".




Vocês podem fazer o dowload do filme, com legendas em português, neste blog:
http://gayload.blogspot.com/2008/12/delicada-atrao-beautiful-thing.html

Ou assista a uma cena no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=U3_r4kmj6q0

Coração Vazio

É complicado explicar esta minha fase. Durante toda minha vida, esperei encontrar alguém que fizesse meus olhos brilharem e meu coração disparar, e que me fizesse suspirar, e então todo o resto perderia o sentido. Desejo isso do fundo da minha alma, desde tanto quanto posso me lembrar que existo.

Sempre consegui me apaixonar tão facilmente quanto falar, ou andar, ou respirar.

Aos poucos, a vida foi me mostrando que as coisas não seriam tão fáceis, que o amor correspondido não era para todos, e ainda mais quando essas pessoas amam outras do mesmo sexo. E ainda mais para muitas outras, deficientes, fora dos padrões de beleza ditados pela sociedade, ou com alguma diferença que a torne menos atraente dentro de padrões impostos. Essas pessoas também sonham em encontrar alguém. No fundo, todos procuramos. Como a vida pode ter sentido sem o amor romântico?

Mas agora, por alguma razão, não consigo mais me apaixonar. Sim, não consigo. Não sinto mais o coração bater mais forte por alguém. Quando alguém se aproxima de mim com segundas intenções, eu me sinto estranho, envergonhado, com receio... não sei explicar. Tenho medo de que não seja a pessoa certa, a pessoa ideal para mim, e acabo não sentindo o coração bater mais forte por ninguém em especial. Sem isso, não consigo ver graça na vida.

Até quando essa fase vai durar? Bom, sei que em algum momento aquele sentimento de apaixonado vai voltar, quando eu encontrar o rapaz certo para mim. Sinto que já sou apaixonado por alguém que apenas não encontrei. Onde ele estará? Quando vou encontrar? Só me resta esperar...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

TODOS CONTRA A HOMOFOBIA!

Muitos ainda nem sequer ouviram a respeito, e outros tantos podem ter ouvido de uma forma equivocada.

Para quem não sabe sobre o PLC 122/2006, projeto de lei que objetiva criminalizar (isto é, tornar crime) a homofobia (ou seja, qualquer forma de discriminação, intolerância ou agressão a homossexuais), tentarei falar um pouco a respeito.

Há algum tempo o site do Senado fez uma enquete com os internautas para saber se eram favoráveis ou não ao projeto, que já existe há alguns anos. Eu votei no SIM, e divulguei para todas as pessoas em quem confio para que votassem também. Mas, honestamente, acho que o simples fato de essa enquete existir já é um absurdo. Mais absurdo ainda é a quantidade de pessoas contrárias ao projeto de lei.

Em primeiro lugar, como alguém pode ser contra a obrigação das pessoas se respeitarem? Como alguém pode defender o "direito" de discriminar alguém?

Vamos aos esclarecimentos mais importantes.

- O que você pode:
Não, a lei jamais impedirá que pessoas tenham suas crenças ou tenham suas opiniões. Liberdade de fé é garantido em nosso Brasil. Há religiões que, infelizmente, ainda consideram a homossexualidade um pecado (tal consideração nós sabemos que se deve a fatores culturais, pela origem da bíblia e do alcorão, da época em que foram escritos, etc...). Mas, ainda assim, quem quiser acreditar nesses absurdos, tem o direito. Você tem o direito de acreditar no que quiser!

- O que você não pode:
Acreditando no que quiser, por motivos religiosos ou culturais, você NÃO tem o direito de privar homossexuais de seus direitos. Isto é, você não pode constranger ou agredir um casal homossexual que saiu de mãos dadas na rua apenas porque VOCÊ, na sua crença, acredita que é errado. Você não pode demitir uma pessoa, expulsá-la de estabelecimentos, ou promover bulyng na vizinhança ou trabalho, pelo fato de ela ser homossexual.


Infelizmente, muitas pessoas, fanáticos religiosos ou simplesmente machistas, têm se unido contra esse projeto de lei, alegando que o mesmo tirará sua liberdade (o que é um equívoco, como já demonstrei). Ou não leram o projeto, ou agem de má fé.
Essas pessoas lutam pelo "direito" de discriminar. O que se pode dizer a respeito disso? A ignorância e a crueldade humana existem, mas não podemos nos intimidar diante disso.

Ha também algumas pessoas que se questionam: por que uma lei para a homofobia? O preconceito de uma forma geral não é crime? Sim, a constituição diz que somos todos iguais. Porém, em muitos locais, homossexuais ainda não perseguidos, ridicularizados, intimidados, muitas vezes tendo que mentir para continuar vivendo em segurança, ou não perder emprego. Muitas vezes essas pessoas não têm a quem recorrer, tudo depende muito do juiz que analisar a questão, etc... com uma lei, a coisa é diferente. É de extrema importância que seja aprovada, mas precisamos entender que direitos não caem do céu, temos que lutar por eles. Divulguem o projeto, falem com seus amigos e conhecidos? Se todos pensarem a respeito, já é um grande começo. O que não podemos é viver de tabus, a vida não é suficiente se for vivida na hipocrisia.

Por fim, houve uma outra pessoa que me disse ser contra o projeto, por não ser a favor da criminalização de nada. Ainda penso em como devo interpretar isso. Será que essa pessoa se opõe à criminalização do racismo, do assassinato, do estupro, do roubo... etc? O que você faria/fará se você fosse/for homossexual e sofresse/sofrer uma injustiça? Vai sentar e ficar quieto por não ter nem sequer uma legislação que o socorra?

Para quem não sabe, a lei da criminalização da homofobia já existe em muitos países (Holanda, Dinamarca, França, Canadá, Alemanha, Bélgica, dentre outros) em que o direito de LIBERDADE dos seres humanos é exercido. Países que prezam o RESPEITO aos seus cidadãos.

Não há motivos ou argumentos para ser contra. Por isso, pense, argumente, converse, conscientize, faça sua parte a cada dia. Eu faço a minha!

Todos juntos pelo fim da homofobia e de qualquer forma de discriminação.

Um beijo grande a todos,

Christian Labure.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Esperanças Perigosas (parte final)

- Oi.
- Oi. – respondi.
“Que foi? Vai me convidar para o casamento?”, eu pensei.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Sabe, Christian... nunca mais nos falamos depois daquele dia. Pensei sobre as coisas que me falou e...
- E...?
- Eu estive pensando em você, apenas isso.
- Pensando...?
- Nada. Apenas pensamentos. Nem bons nem maus. Pensamentos que gosto de ter.
- Que bom! Fico feliz. Mas agora eu preciso ir, estou atrasado para a aula.
- Você me liga quando voltar?
- Volto tarde.
- Eu te ligo então... não aceito não como resposta.
- Está bem.

Desliguei o MSN e fui para a aula. Quando voltei, ainda não conseguia tirar isso da minha cabeça.

Como prometido, ele me ligou. Ouvi seu “alô, Christian?” tímido do outro lado e senti meu estômago gelar novamente. Conversamos durante horas sobre os mais variados assuntos e quando desliguei, arrisquei dizer:

- Tenho que ir dormir, mas adorei conversar com você. A gente se fala amanhã?
- Com certeza!
Com uma voz de bobo apaixonado eu perguntei:
- Promete?
E com uma voz sussurrante ele respondeu:
- Prometo! Beijos, beijos, beijos.
- Muitos beijos, gatinho.
Desliguei e fui dormir pensando nele.



Foi maravilhoso alimentar aquela esperança, justo naquele momento quando eu achava que jamais a alimentaria de novo. Durante dias, semanas, ele me ligava. Terminávamos falando coisas do tipo e ele prometia marcar um novo encontro, mas nunca marcava. Durante um bom tempo ele me enrolava. Eu perguntava ao telefone quando nos veríamos, e o quanto ele gostava de mim. Ele nunca dizia. Ou sussurrava, em tom de mistério: “você vai ter que descobrir”.
Quando nos encontrávamos (o que raramente acontecia) ele me tratava como amigo e eu nunca sabia se era o momento de “investir” ou não. Conversávamos, ríamos, assistíamos a filmes, e um dia vimos um filme gls romântico juntos. Na cena final, ele disse: “oooh” e acariciou meu rosto e meu cabelo. Pensei em tentar beijá-lo, mas fiquei com receio de perdê-lo.

Ainda lembro bem de um dia daqueles, quando entrei no MSN e ele estava lá.
- Christian. – ele disse.
- Daniel!
- Sabe, Christian... hoje um garoto muito lindo veio pedir para ficar comigo.
- E...?
- E eu disse não. Afinal, já estou ficando com alguém?
- O que quer dizer?
- Você não percebeu? Eu gosto de você.
Senti uma grande felicidade, mas ao mesmo tempo um pressentimento estranho me impedia de ficar totalmente feliz. Mesmo assim, poderia pular de alegria.
- Quando nos veremos então?
- Em breve. De noite eu te ligo.


Nossos telefonemas eram estranhos. Às vezes brigávamos por poucas coisas. Às vezes, parecíamos bem, e de repente, ele fazia comentários estranhos, repentinos. Mas a pior briga foi quando, em algum momento, de alguma forma tocamos no assunto “racismo”, e eu disse que ele era mulato/pardo. Sua voz se alterou:
- Eu??? Pardo? Você está louco? Eu não sou isso!
- Mas... Daniel... qual o problema em ser mulato?
- Eu não sou!
- Mas... então estou cego.
- Eu tenho o cabelo liso! (Ele não tinha o cabelo realmente LISO, ele fazia mil tratamentos para deixá-lo o mais liso possível, e eu já havia percebido, pois já tinha tocado seus cabelos). Você é um racista, Christian! Um hipócrita e um racista!
- Racista? Você está equivocado, Daniel. Se existe uma coisa da qual tenho pavor é preconceito de qualquer tipo. Mas não consigo entender como posso ser considerado racista apenas porque constatei um fato. Se eu disser a uma pessoa de olhos azuis que ela tem os olhos azuis, sou preconceituoso contra pessoas de olhos azuis?
- É diferente. De negro não se pode falar.
- Isso é que eu acho racismo. Para mim, todo mundo é igual.
- Só quero que você me responda uma coisa com toda sinceridade...
- O que é?
- Você... você... você me acha mesmo negro/pardo?
- Sinceramente? Isso não faz a menor diferença.
Ele se acalmou um pouco.
- Sei que você é um bom rapaz, Christian. Sei que gostaria de mim mesmo que eu fosse negro. Mas eu NÃO sou! Eu não sou negro, não tenho nada a ver com negro. Não me identifico com isso.
- Daniel. Eu não gosto de você “mesmo assim”. Eu gosto de você justamente por você ser como você é. Assim mesmo.
Ele ficou abobalhado quando ouviu isso.
- Hum... gostei...
- Você é lindo como é.
- ...
- Vou precisar desligar. Mas lembre-se que você é lindo por ser justamente assim. Desse jeito mesmo. Muitos beijos.
E antes de desligar, bem baixinho, ele sussurrou:
- Te amo!
E desligamos.


Em uma das noites em que o esperei no MSN, ele começou a me enviar textos estranhos (“veja o que escrevi”):

“Ele era forte, musculoso, pele morena, olhos verdes, tenista... ele me agarrou entre as pedras e me possuiu ali...foi difícil resistir... tentei mas acabei me entregando...”

- O que é isso?
- Quero que você leia, Christian. Continue.

“...era quase um deus grego.... seus traços eram perfeitos; seu corpo, escultural... continuamos e depois... e assim ele me pegava...

- Por que escreveu isso? Por que está me mandando isso?
Ele ria.
- Como pode ser tão cruel brincando com algo que lhe contei? – eu perguntava.
Ele continuava mandando os textos.

“...e assim, atingi o orgasmo. Fim”.


- Gostou?
- Tenho um fim melhor. “Peguei um salto alto bem vagabundo e enfiei no rabo desse tenista ridículo e no seu também. Fim” Agora tchau.

Desliguei o MSN. Ele me ligou.
- Ah, Christian. Pára com isso. Eu só queria ver se você ainda sentia alguma coisa por aquele Eduardo de quem você gostava.
- Não. Eu já disse que quero você. Eu, ao contrário de você, sei o que quero.
- Então vamos nos ver?

Assim, ele me chamou para sair, enfim. Fomos almoçar juntos. O dia parecia perfeito. Todos os sinais demonstravam claramente que ele me queria. Mandava indiretas, dizia que estava perto finalmente de quem queria estar, e ao fim do dia, em minha casa, enquanto conversávamos, peguei na mão dele. Ele continuava sorrindo simpaticamente mas percebi que não se sentia à vontade.
- Está tudo bem?
- Está sim. – ele disse e se voltou para o lap top que havia trazido.
- Então... – não resisti – se está tudo bem, então me dê um beijo.
Ele arregalou os olhos, assustado, mas não teve como reagir. Antes que pudesse fugir ou fazer qualquer coisa, fui ágil: segurei suavemente seu rosto e lhe dei um beijo na boca.
Ele recuou, fazendo uma expressão de pavor.
- Você está criando uma situação chata, Christian. – ele disse irritado.
Meu mundo caiu.
- Situação chata?
- É. Eu não gosto de você. Nunca gostei. Não percebeu?
Eu quase não conseguia raciocinar. Tudo parecia um pesadelo terrível.
- Mas... se não gostava de mim... porque quando eu me afastei você veio atrás? Por que me disse tantas coisas românticas e até disse que me amava?
- Ah, sei lá. Eu estava na dúvida. Mas não quero você. Desculpe.
Meu coração se partiu em mil pedaços. Tudo que eu queria era sair correndo, deitar na minha cama e chorar até dormir, sem ter que ver ninguém, amigos ou família, por um bom tempo.
- Eu sou muito feio, Daniel?
Ele não me respondeu e me olhou fazendo olhar de piedade, e dando um sorriso aparentemente amigável.
- Ah, Christian... – e não terminou.
- Você parecia gostar tanto de mim antes de me ver pessoalmente.
- Orkut muda muito as pessoas, né? Não tinha foto de corpo. Mas não fica assim não, eu arrumo outro para você. Você gosta de neguinho, né? Um dia eu arrumo um para você.
Aquilo doeu ainda mais.
- Você quer que eu vá embora? – ele disse, sorrindo.
- Sim. É, eu quero sim.
Fui dormir e acordei no meio da noite. Quando temos sonhos ruins, durante algum tempo, ao acordar, pensamos que ainda é verdadeiro. Por alguns instantes, pensei que fosse o caso. Mas não, era real. Ele não gostava de mim. Nunca havia gostado. Só havia me dado esperanças falsas.

Várias semanas se passaram. Eu ainda estava triste, mas achei que não era certo da minha parte culpá-lo. Talvez ele não tivesse culpa, tenha ficado indeciso, só isso.

Liguei para ele e resolvi aceitar a ajuda para arrumar alguém. Se ele era meu amigo, como dizia ser, me ajudaria.


Impaciente e indiferente, ele entrou no MSN e me mandou algumas fotos de gays que conheciam.
- Esse aí... bom, como você pode ver, ele tem músculos... ele é popular... ele jamais olharia para uma pessoa como você. Já este aqui, bom... ele é muuuuuuito popular. É, bom...
- Você não tem nenhum amigo que goste de garotos que não sejam musculosos?
- Bom, Christian... vamos ser sinceros? Existe um padrão na nossa sociedade. Garotos magrelos não estão nesse padrão. Homem tem que ter MÚSCULOS! Por isso freqüento uma academia. Por isso ando com garotos que têm essas características... Você acha que quero ficar fora do padrão? Deus me livre! Christian, você é magricelo. É como um cabelo na sopa: não dá vontade de comer. Você não atrai ninguém. Olhe, aprenda uma coisa: TUDO é STATUS nessa vida. Você acha que eu digo que sou gay para meus amigos héteros populares? Claro que não, não dá status sair dizendo isso, eu perderia toda a popularidade que conquistei! Eu minto mesmo. Outro dia, na entrevista de emprego, eu menti, sem ninguém perguntar, que ali perto morava minha noiva. Outro dia, com meus amigos héteros, eu fiquei com uma garota. Você acha que eu ia deixar que percebessem que eu era gay? Mas NUNCA! Morro negando, meu bem!
- Isso é se prostituir, de certa forma.
- Deixe de ser dramático, Chistian. Todo mundo é assim. Você acha que alguém gosta de ser magrelo? Negro? Gordo? Deus me livre!
- O que você está me dizendo é horrível! Não vejo nada de errado em ser negro, gordo...
- Ah, faça-me o favor, Christian. Eu vou lhe contar agora uma historinha real. Vem cá, ouve só: eu conheci, há algum tempo atrás, um garoto na minha galera gay. Ele era gordo, muito gordo, obeso. E olha que era loiro de olhos claros. Todo mundo falava com ele, era educado, lógico. Mas você acha que se aproximavam de fato? CLARO que não! Não dá status andar com ele. Era “oi, e aí? Tudo bom? Quanto tempo, querido! Deixa eu ir lá que estão me esperando. A gente se fala”. E sumiam de perto dele. Ele sempre ia às baladas com a gente. Você acha que ele pegava alguém. Claro que não, ele se colocava no lugar dele. É assim. E eu jamais ficaria com ele. Eu quero é subir, meu querido. Todo mundo quer. E eu estou saindo, se quer saber, com um garoto forte, rico e loiro.
- Pois bem, Daniel. O fato de ele ser rico e loiro muda alguma coisa? Nem pergunto sobre o “forte” porque para isso já sei a resposta.
- Olha, Christian... não vou lhe dizer que é SÓ isso. Mas que dá um empurrãozinho, dá sim. Claro que dá. Todo mundo é assim. Eu pelo menos admito. Quem é que não gosta de um namorado rico para pagar restaurantes caros e te levar de carro para casa. É um empurrãozinho, sejamos realistas.
Um nojo tão grande começou a tomar conta de mim, que já não entendia como havia algum dia me interessado por ele.
- Daniel, obrigado pela ajuda, mas preciso ir.

Resolvi tirar aquilo da cabeça, me ocupar com outras coisas. Naquela tarde, acabei gravando, em minha aula de canto, uma música que me emocionava. Fui extremamente aplaudido por todos ao meu redor. E minha professora, emocionada, disse que “aluno que já sabia cantar era uma maravilha”. Eu não esperava por tanto e fiquei feliz. Guardei a gravação e repassei a alguns amigos, todos elogiaram. Repassei a gravação para Daniel. Esqueci que ele era a única pessoa que não gostava de me ouvir cantar, e sempre havia dito que não gostava da minha voz. Depois de um tempo ele me respondeu:
- Por que me mandou isso? Já lhe falei que você não canta bem.
(Ele me disse isso, sem saber que naquele mesmo dia, com aquela mesma gravação, eu havia sido aplaudido).

- Você acha realmente, Daniel?

- É... você é magricelo, franzinho, feio e não canta bem.




PARE TUDO!

...parou?

Agora, preste atenção. Porque há momentos em que nós cansamos, nós não podemos mais ser bonzinhos, e você vai ver um dos únicos momentos da minha vida em que fui realmente CRUEL. Até mesmo a doçura e a gentileza de Christian Labure têm seus limites.

- Sou magricelo, não sou?
- Já não falei que sim?
- É... e você é gordo.
- Heim? (ele não acreditou no que falei)
- Sim, você é. E isso não o torna pior nem melhor do que ninguém. O que o torna uma pessoa feia é que você tem raiva das pessoas gordas, fala mal do garoto gordinho que não arrumava ninguém. Você o critica e tenta diminuí-lo porque VOCÊ vê nele algo seu do qual não gosta em você próprio. Algo que não admite nem para si mesmo.
- Do que está falando? Eu já emagreci muito.
- Mas outro dia mesmo você estava reclamando de ter engordado.
- Ah... isso não é da sua conta...
- É, não é mesmo. Daniel, entenda uma coisa: não há NADA de errado em ser gordinho, nem em ser magricelo. Mas se você acha que tem, e pensa em falar mal e ridicularizar pessoas que possuem essas características, certifique-se antes de que VOCÊ não é o primeiro a possuí-las. Não adianta usar roupas estrategicamente e se matar na academia achando que vai mudar seu biótipo. Você se odeia por ser mulato, gay e gordinho. O que há de errado em ter essas características?
- Pára com isso, eu não sou...
- Claro que é.
- Eu não sou gordo. Eu tenho nojo de gente gorda.
- Então você tem nojo de você mesmo.
Ele emudeceu, e em seguida explodiu, quase chorando:
- Você é um magricelo, feio... e ainda por cima com uma cicatriz nojenta tenho pena de você.
- Quer saber de uma coisa, Daniel? Eu AMO o meu corpo, do jeito que ele é. Amo meu corpo magrelo, meu nariz grande, meus cabelos negros desgrenhados. AMO tudo em mim. E só lamento não ter percebido isso antes. Ah, sim, e eu AMO minha cicatriz.
Rapaz, aprenda a se amar também, e quem sabe um dia poderá ser feliz... sendo você mesmo, e não uma mentira. Boa sorte, e até NUNCA MAIS... seu merda!
Desliguei, risquei o número da agenda, deletei do MSN e bloqueei.
Algum tempo depois ele foi ao meu Orkut e escreveu, via depoimento, (isto é, de uma forma que ninguém pudesse ler) um texto enorme, cheio de xingamentos, tentando me convencer de que eu era magrelo e nunca seria feliz. Uns três depoimentos de milhares de linhas, cada um. Li a primeira linha e deletei todos.

Escrevi para ele: “Oi, Daniel. Sabe o depoimento enorme que me mandou? Pois é, não li (sim, você perdeu seu tempo). Desista de me escrever. E espero que algum dia você seja muito feliz... seu merda (só para não perder o costume).”



Terminado isso, eu o bloqueei também no Orkut para que não pudesse me responder, e deletei seu contato por ali. Saí de perto do computador, suspirei aliviado e apenas pensei:

- Ah, eu me sinto TÃO bem agora!!!!...


ATENÇÃO, um recado para os que leram esta história (se é que alguma boa alma a leu até o final):

Ninguém é melhor/pior do que ninguém por ser gordinho, magricelo ou forte. Esse padrão que coloca os homens fortes como superiores, em detrimento dos mais gordinhos, ou dos mais magros, é uma CONVENÇÃO humana. É cultural, espalhada tacitamente pelos meios de comunicação. Padrão cruel, porque faz com que pessoas saudáveis passem a se sentir mal com seus biótipos e convençam pessoas de que são inferiores com base em algo que não podem mudar.

É claro que sentir um pouco mais de atração por um ou outro tipo é normal e saudável, é gosto. Se quer um conselho, jamais dê crédito a alguém que tenta inferiorizar seu tipo. Procure amar alguém que o/a ame exatamente do jeito como você é. Acho que só assim uma relação pode durar e crescer saudavelmente e de uma forma realmente feliz.

Pode ser clichê, mas é de verdade: de alguma forma, você é LINDO/LINDA como é. Basta que você descubra a beleza que existe em você.

Um beijo grande a todos,
Christian Labure

Esperanças Perigosas (parte 2)

Era a padaria, que minha irmã havia pedido. Que droga! O nervosismo começa a tomar conta de mim conforme as horas vão passando.

Olho para meu orkut, a foto que o fez me achar bonito era uma foto de rosto. Eu me olho no espelho... e se ele me achar magrelo demais? Lembrei das palavras de Nina dizendo que Daniel só gostava de meninos fortões "sem pescoço". Mas resolvi tirar isso da minha cabeça e dizer a mim mesmo: "você é bonito do jeito que você é". Fui à sala mais tranquilo e, quando o interfone tocou novamente, fui atender...

E mal pude acreditar quando o vi ali, na minha frente. Daniel, o mesmo garoto fofo que eu vinha acompanhando há tanto tempo pelo orkut. Eu o cumprimentei timidamente e o convidei para entrar. Ele me olhou com um olhar assustado que durou uma fração de segundos e, quando deu conta disso, abriu um grande sorriso e me cumprimentou. Ficamos conversando e ele me contou que estudava com Nina e que, no passado, havia estudado com mais da metade das pessoas da minha turma de terceiro ano. Ele só não conhecia Eduardo, mas conhecia a maior parte de seus amigos, e já tinha escutado muito falar dele.

O papo fluiu muito bem, Daniel era simpático (embora algo em seus olhos parecessem não verdadeiros, mas pouco eu me importava para isso, e pouco eu me permitia notar naquele momento), e era relativamente culto, podíamos conversar sobre muitas coisas.
Passamos pelo meu quarto, onde ele viu alguns dos meus bichinhos de pelúcia e filmes de desenhos da Disney, coisas que eu amo e que conservo guardados como um pequeno tesouro. Percebi que ele os olhou fixamente e depois sorriu para mim com aquele mesmo sorriso de político querendo voto.
Na saída, me lembrei de uma coisa: em um dos nossos assuntos pelo orkut, antes de vir me ver pessoalmente, ele me disse que havia um segredo para me contar.
- Bom... – ele começou – é uma besteira.
- Agora que prometeu, diga.
- Bom, é que eu nunca...
- Nunca...
- Nunca fiz nada mais sério com ninguém.
Achei tão fofo da parte dele ter me dito aquilo naquele momento que não pensei duas vezes em dizer o que eu achei que ele jamais deixaria de compreender. Com um sorriso ingênuo, eu entreguei:
- Eu também não! E, eu nunca beijei alguém.
Ele arregalou os olhos.
- Ninguém? Mas por quê?
- Oras, porque nunca conheci ninguém que me fizesse ter vontade.
- Mas é errado um cara chegar à sua idade sem beijar.
- Errado eu fazer o que quero com meu próprio corpo?
Ele sorriu simpaticamente e disse que precisava ir embora porque tinha compromissos (sendo que, antes de chegar, ele havia dito que ficaríamos juntos durante horas).
Uma onda de desespero começou a chegar e se espalhar.
- Espera... eu nunca beijei ninguém, porque queria que fosse com alguém especial, não era o momento, era um direito meu. Será que é tão errado assim? E agora, eu acho que sei por quê. Eu queria que fosse você.
Por uma fração de segundo ele fez uma expressão de pavor, e depois voltou ao sorriso simpaticamente forjado e disse que precisava ir.


- Antes de ir, me dá um beijo? – eu pedi. De alguma forma, meu jeito de garotão apaixonado bobão e desajeitado, deve ter mexido com ele de alguma forma.
- Feche os olhos. – ele me disse.
- Feche-os você.
Ele então cobriu meus olhos e, quando eu menos esperei...

tocou meus lábios bem devagar, com os dele!

Achei que meu coração ia explodir! Finalmente, havia beijado alguém, e alguém por quem eu já estava apaixonado!

- Quero um beijo de verdade! – eu disse.
Ele fechou meus olhos de novo e me beijou. A sensação de beijar alguém na boca, sentir os lábios dele nos meus, a língua dele na minha, era tão diferente do que eu imaginava... ele terminou o beijo, me deu mais um selinho e disse que precisava ir.
Não sei o que deu em mim neste momento, um conjunto de vontades que estavam lá dentro escondidas, enfim... tomaram conta de mim, e o abracei bem forte, colei meus lábios nos dele e comecei a beijá-lo ainda mais. Não conseguia ouvir nada, ver nada, só queria tocá-lo de alguma forma. Só queria tocar alguém, beijar e me aproximar cada vez mais.
O celular dele tocou. A voz dele tremia e as pernas dele pareciam que não iriam mais sustentá-lo. Ele estava muito nervoso.
- Meus amigos estão aí embaixo de carro. Eu preciso ir. – disse e saiu correndo (quase literalmente).

Fui dormir achando que não deveria mais pensar naquilo. Mas ao me deitar na cama, percebo uma forte dor nos meus testículos. Quase insuportável!

Abro o MSN e vejo milhares de mensagens de Janjão.

- Aiiiiiii, me conta tudoooooooo! Pegou ou não pegou o bofe?
- Ah, conversamos um pouco, e então ele foi embora. Gente boa ele...
- Ah....
-...
- É sério?
- MENTIRA, seu bobo!!!!!!!!!! Peguei!!!
- Uhuuuuuuul!
- Janjão, eu nem posso acreditar!
- Ai, isso me lembra tanto quando eu peguei o meu Daniel, há alguns meses atrás. Mesmo nome que o do seu bofe. Meu primeiro e único beijo...
- Que legal!
- ...aí ele me largou para ficar com outro... mas isso não importa. E então, conta TU-DO!
- Nem sei o que dizer! Foi maravilhoso! Acho que o assustei também, mas tudo bem. Agora eu estou preocupado porque estou sentindo umas dores estranhas e não sei o porquê.
- Ih, vai ao médico...
- Isso deve ter alguma coisa a ver com o que aconteceu?
- Será?

Janjão era tão inexperiente quanto eu. Conforme a dor foi aumentando, na outra janela acabei tendo que comentar com um ex-colega de turma, chamado Guilhermino, que me explicou tranquilamente:

- Pô, cara, isso acontece porque você ficou excitado demais e não fez... bom, você sabe. Enfim, não sabia?

“TÔIM-ÔIN-ÔIN”. Fiquei me sentindo o idiota naquele momento! Como eu era ingênuo e inocente.

Naquela noite, dormi pensando que havia conseguido tudo que queria de Daniel. Mas acordei durante a noite suando frio, com lágrimas nos olhos, e com um pressentimento estranho. E se ele fosse aquela pessoa que eu tanto procurei? E se fosse uma forma de Deus me recompensar por toda a mágoa que passei com Eduardo? E se Daniel fosse o amor da minha vida, quem sabe...?

No dia seguinte, ele estava no MSN. Dei um tempo para ver se ele viria falar comigo. Ok, não veio. Eu fui falar com ele.

- Oi, tudo bem?
- Oi. (Frieza)
- Bom, só queria saber se está tudo bem, se gostou de ter me conhecido. Quero dizer, espero que esteja tudo bem e que eu não tenha assustado você.
- Olha, vou ser sincero. Algumas coisas me assustaram sim. Você tem bichinhos de pelúcia no quarto. A sua cortina é rosa. Isso não é normal para um cara de 18 anos de idade. São sintomas de regressão.
- Você está equivocado, Daniel. Está sob a influência de uma sociedade preconceituosa. A sociedade determina padrões, até gostos, e nós ficamos submissos a ela. Cria regras e as naturaliza como verdades absolutas, como se fossem parte da natureza. Será que ninguém percebe isso? E se um dia as regras mudassem e fosse convencionado que homens de olhos escuros não podem assistir a filmes de comédia, por exemplo? Você deixaria de assistir a eles?
(Depois de uma demora, ele respondeu...)
- Lógico! Deixaria sim! Você está dentro dessa sociedade. Tem que viver de acordo com ela e se submeter a tudo. Entenda uma coisa que eu vou lhe dizer, Christian, guarde bem essa frase que é cruel, mas verdadeira: TUDO NA VIDA É STATUS!
- Isso é injusto. E a sua personalidade? E as coisas que ama? E a sua LIBERDADE? Tudo isso muda de acordo com o interesse?
- Ai, você faz um drama. E outra: alguém que nunca beijou ninguém aos 18 anos... isso é esquisito.
- Esquisito é eu fazer com meu corpo algo que não tenho vontade só para ficar dentro de um padrão imposto. E se quer saber, cansei dessa conversa. Até mais, au revoir.

Desliguei o MSN jurando que não falaria mais com ele. E consegui resistir. Naqueles dias, passei por momentos tristes quando pensava nele, e no fato de eu ainda não ter alguém especial ao meu lado. E durante um bom tempo pensei, até que comecei a esquecer. É lógico que ainda lamentava a falta de um namorado a quem chamar por nomes carinhosos, cantar, segurar mãos, suspirar, ver o sol nascendo juntos, essas coisas... mas consegui “anestesiar” e não pensar.

Até que um dia entrei no MSN para falar com algum colega de faculdade, e lá estava ele com o seguinte “Nick” (uma mensagem que os usuários deixam visível):

“Sempre procurei você em outros rostos, mas descobri que quem sempre quis era você...”

- Ah, que ótimo! – eu pensei, ironicamente – bom... espero que ao menos estejam felizes. Longe de mim, de preferência. Agora posso esquecer de vez tudo isso.

Mas, para minha surpresa, alguém veio falar comigo... era ele!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Esperanças Perigosas (como o padrão de beleza fere...)






Já havia se passado algum depois daquela grande confusão e eu achava que já estava tudo bem. Faculdade, vida normal, bem resolvido comigo mesmo... Mas por alguma razão a dor da rejeição e da incompreensão ainda doíam e as palavras de Eduardo ainda não me saíam da cabeça.

Eu fui me deixando levar pelo tempo e aparentemente era a mesma pessoa doce e silenciosa de sempre. Ninguém sabia que dentro de mim fervilhavam sentimentos e desejos que eu precisava extravazar.

Foi quando, um dia, utilizando o site do orkut, encontrei um recado de uma menina que havia estudado no mesmo colégio que eu, mas em outra turma.

- Oi, você é o Christian do Educandário? Beijos, Nina.

Eu não me lembrava dela, mas respondi dizendo que sim, quase imediatamente respondi outro recado, dizendo:

- Você parecia ser tão legal, apesar de tímido! Eu queria falar com você, mas ficava sem graça, pois sempre via você andando com a Túti e as outras meninas.

Gostei do jeito descontraído e engraçado da garota e respondi mais uma vez, dizendo que se ela tivesse falado comigo há mais tempo, teria sido um prazer.
A partir daí, durante todos os dias, começamos a nos corresponder. Eu respondia, ela respondia... em uma noite de tédio, através do programa do MSN no computador, ela me escreveu:

NINA diz:
Ai, Christian, estou entediada, jogando joguinho aqui... Fala alguma coisa.
CHRISTIAN diz:
Bom... eu estava vendo o orkut do pessoal do Educandário, e caí no orkut do Miguel, seu amigo, que era da minha sala.

NINA diz: Sei.
CHRISTIAN diz:
E ele tem um amigo, um tal de Leandro, que é tão bonito!

NINA diz:
Heim?
CHRISTIAN diz:
O que foi?

NINA diz:
você gosta de meninos, Christian?

Sem perceber, acabei desejando em cima dela toda a história da minha trajetória, da descoberta à carta para Eduardo.

NINA diz:
Nossa, que garoto babaca esse Eduardo! Mas olha, ele era muito puxa saco dos garotos populares e babacas da sala. Ele NUNCA vai se assumir, nem para si mesmo.

Aquilo ainda me doía naquele momento, embora eu já soubesse que Nina tinha razão.

NINA diz:
Eu tenho um amigo gay. Na verdade, colega de faculdade. Mas ele é fanático por beleza, vive em academia porque quer ser saradão... quer que eu passe o orkut dele?
CHRISTIAN diz:
Sim, por favor.

Quando abri aquela página e vi a foto do tal garoto, quase caí para trás. Era tudo de que precisava, uma nova paixão, alguém para quem dar todo o amor que eu tinha guardado. E não foi muito difícil transformar aquilo em uma obsessão. Nem respondi mais aos recados de Nina. Ficava apenas olhando para as fotos do tal rapaz. Daniel era seu nome. De pele morena, cabelos e olhos negros, parecia ser fortinho, mais ou menos do tipo do Eduardo. Durante algum tempo, pelo menos três minutos do meu dia eu passava olhando as fotos de Daniel no orkut, e admirando. Um dia, comentei isso com Nina, que me disse:

NINA diz:
- Chris, tome cuidado. Daniel é simpático e divertido, mas é uma pessoa superficial, e ele só gosta de caras exageradamente musculosos, aqueles sem pescoço, sabe?

A ficha caiu para mim. Eu ainda era um garoto magrelo... isso nunca me incomodou tanto quanto nesse momento. A sociedade em que vivemos convencionou que homens bonitos são aqueles que têm músculos, isso é passado tacitamente pela televisão, revistas, manequins, e tudo mais... Daniel, como a maioria dos garotos, aprendeu dessa forma. Achei melhor esquecê-lo, ele não iria olhar para mim, até que, naquela noite, tive um sonho...

Passava por um lugar, parecia um colégio ou uma faculdade... muitas pessoas passando, gritos... sons de vozes distantes, parecia caminhar sobre nuvens, tudo parecia uma grande vertigem. Ele, Daniel, aproximava... me abraçava... e me dava um beijo na boca. Nunca, em toda minha vida, havia tido um sonho tão real, era como se ele tivesse realmente me beijado.

Acordo com a cueca melecada. Liguei o computador e resolvi: não tenho nada a perder, vou escrever para ele.

"Oi, Daniel. Tudo bem?

Sou amigo da Nina. Achei por acaso seu perfil e vi que temos gostos muito parecidos para filmes, e que temos muitos amigos em comum. Você também se interessa pela vida da rainha Ana Bolena? Que legal! Se puder, me adicione, é sempre bom fazer novas amizades. Abraços."


Terminei de ler aquilo, achei ridículo e resolvi não mandar. Criei então um "fake" no orkut. Coloquei nele o nome "Ana Bolena" e uma foto da antiga rainha. Assim poderia escrever para ele sem que ele soubesse que era eu. Nunca fiz algo tão infantil na minha vida, mas não pretendia mais ser amigo dele, apenas queria chamar sua atenção de alguma forma.

"Ei, rapaz, tome cuidado, você não sabe nada sobre mim, posso estar vigiando você, muahahá". Às gargalhadas, mandei esse e outros recados. No dia seguinte, ao entrar no orkut, me deparo uma resposta dele:


"Sua bruxa! witch! witch! witch! "

Respondi: "sou bruxa, mas sou rainha, você não passa de um reles plebeu. Beijos".

Será que ele responderia no dia seguinte? Adivinhe... abro o computador e lá está:

"Posso não ser nobre mas sou rico, sorry,mas nao estamos mais no séc XVI, agora titulo de nobreza nao serve nempara limpar a bunda, o que manda nesse mundo captalista é o dinheiro. e isso vc não tem, falida!!!!!!!!

cale a boca antes que eu te esmague com o peso da minha carteira. Bruxa pagã! "

Respondi: "Shut up, menino fútil. Honey, você jamais chegará aos pés da grande rainha Bolena. Beijos, não me liga"


Durante vários dias, a minha nova Diva, Ana Bolena, ressuscitada e vindo diretamente da Inglaterra, me ajudava a puxar papo com Daniel. Com o tempo, fui usando outros personagens, reis e rainhas, nobres, pintores, músicos e escritores dos séculos passados, cada um com uma personalidade diferente. Criava perfis com os nomes das personalidades históricas e escrevia para ele, que sempre respondia rindo.

Aquele fim de ano parecia igual a todos os outros. A família continuava mergulhada em seu próprio mundo. Falar sobre cada um deles é complicado, personagens tão profundas que seria necessário um capítulo de um livro para cada um deles. Minha irmã havia sido uma das garotas mais bonitas de sua época, feliz e popular, mimada e cheia de vontades. O tempo foi passando, ela não quis estudar ou trabalhar e continuou vivendo às custas de nossa mãe, e sempre reclamando de tudo.

Até que chegou a festa de fim de ano, na casa de uma tia com jeito de madame blazé. Minha família, como sempre, mergulhada em seus interesses, problemas e frustações próprios, eu estava sempre sobrando nas conversas. No canto da sala, ouvia de longe todos conversando e quando começaram a brigar, acabando com a festa, por algum motivo de pouca importância.

Cheguei em casa cansado e desanimado já esperando por um ano novo igual a todos os outros quando resolvo escrever para ele por uma última vez.

"Rapaz, espero que tenha gostado da brincadeira. Você me ajudou a exercitar meu talento para ser escritor. A rainha Ana Bolena e os outros já voltaram para o mundo dos sonhos e dos tempos passados. Se você quiser me adicionar no meu orkut verdadeiro, aqui está o link. Abraços".

Antes que eu desligasse o computador, ele já havia respondido e me adicionado no msn.

DANIEL diz:
Você é lindo!
CHRISTIAN diz:
Espero que não teha levado a mal a brincadeira com os fakes.
- Ah, não se preocupe. É que eu não imaginava encontrar um príncipe encantado por trás de tantos disfarces.

Fiquei sem graça, por sorte não estávamos ao vivo e ele não tinha como perceber.

- Obrigado.
- Mas mesmo que você fosse feio, seria legal com você, pois gosto de ser legal com pessoas feias e carentes de vez em quando, por pena.
- Feias e carentes...? bom, Daniel, deixe-me pedir uma coisa: nunca fale comigo sem vontade, para ser legal.

A forma como ele se colocava como superior às pessoas fora dos padrões de beleza, me preocupou. A insegurança voltou.

- Não se preocupe, agora tudo vai ficar mais às claras. Estava vendo no orkut que temos muitos amigos em comum, e moramos perto. Quando vamos nos encontrar?
- Mas... já?
- Preciso ver você para saber se gosto de você.
- Pensei que já gostasse de mim.
- Já gosto de você. Mas quero saber se tem chance de a gente beijar, ficar, namorar, morrer junto, essas coisas. E então... amanhã, o que me diz?


Aquela rapidez dele me deixou assustado. Várias coisas me passaram pela cabeça: ele só tinha visto fotos minhas de rosto... e se ele me achasse magricelo? E se ele não gostasse de mim? E me encontrar com ele assim... será que era certo? Escrevi para Janjão, um garoto do nordeste com quem falava pelo msn desde que descobri que era gay, e que havia se tornado meu confidente secreto (já que nada do que eu dissesse a ele me comprometeria, e vice-versa, pois não tínhamos conhecidos em comum e estávamos muito distantes).

- CHRISTIAN diz: Janjão, estou falando com o Daniel na outra janela...
- JANJÃO diz: Que Daniel?



- O garoto em quem estou interessado.
- Ah...
- Ele quer que eu me encontre com ele...
- Mas já?
- O que eu faço, Janjão?
- Cara, eu já contei que me masturbei hoje usando um boneco?...
- Janjão, depois você me conta... eu estou nervoso, tenho medo de que ele me ache feio.
- Aiii, eu quero o Adam Pascal para mim, eu estava vendo os vídeos dele na Broadway! Ele é tão hot!
- Janjão! E o Daniel?
- Que Daniel?
- ...??? Você está de brincadeira, né?
- "Kkkkkkk".



(Janjão sempre ria no MSN escrevendo "kkkkk". E, apesar do jeito meio doidinho, juro que seus conselhor costumavam me ajudar... ok, eu sei que está difícil de vocês acreditarem, mas Janjão me deixa mais tranquilo... eu acho).



- Eu estou nervoso, Janjão! O que eu faço?



- Ah, vai lá, ué. É claro que ele vai gostar de você.
- Você acha mesmo...?
- YES! Você é hot, Christianzinho! Vai lá, garoto, e mostra para ele quem é que está no poder!



- Obrigado, amigo. I love you! Deseje-me boa sorte!



- KKKKK... Vai lá e pega o bofe!




O dia seguinte chegou, resolvi seguir o conselho do meu amigo-gay-virtual-secreto, e ir ao encontro com Daniel. Comprei roupas novas (nunca liguei para roupas, para mim o mais importante era estar limpo e arrumado, mas sabia que Daniel era do tipo que ligava, e não custava nada causar boa impressão, ou pelo menos era o que eu achava). Coloquei perfume, tênis novo, estava tão bonito quanto podia. Então... o interfone tocou! Fui abrir a porta...


(Continua...)